Lançado em 2018, Azul é um jogo desenvolvido pelo alemão Michael Kiesling e inspirado na nobre arte da azulejaria portuguesa.
Ainda que seja um abstrato, o jogo referencia a cultura portuguesa,
e nada melhor para musicar este jogo, em minha opinião, que outra nobre
arte portuguesa: o fado.
Há varias teorias acerca da origem do fado, nenhuma delas
completamente comprovada. Suas origens estilísticas remetem a ritmos
portugueses dos séculos XVIII e XIX, como a modinha portuguesa e as serranilhas.
Seja qual for sua origem real, o fado é um ritmo essencialmente
urbano, surgido em Lisboa através da fusão histórica e cultural que
caracteriza a capital portuguesa. Seus temas, principalmente no fado
lisboeta tradicional, tratam de saudade, ciúme, sina, sofrimento,
nostalgia, melancolia e histórias do quotidiano urbano.
O fado popularizou-se na cidade por volta de 1840, sendo então
conhecido como "fado do marinheiro", e deste ritmo
inicial posteriormente viriam a surgir diversos outros ritmos e
sub-gêneros, como o fado corrido e o fado da cotovia.
Em constante evolução, já na virada do século o fado havia
adquirido muitas de suas características, como a riqueza melódica, a
complexidade rítmica e letras que incorporavam a métrica e os versos da
poesia clássica. O surgimento e popularização das casas de fado na
primeira metade do século XX levaram à profissionalização dos artistas e
ao surgimento do "fado contemporâneo", que nos deu artistas como a
magnífica Amália Rodrigues.
Outra importante vertente do fado português é o fado de Coimbra,
nascido em meio às serenatas dos estudantes da famosa Universidade.
Ainda hoje é cantado exclusivamente por homens, e tanto os vocalistas
quanto os músicos vestem sempre o traje preto que remete às vestes
acadêmicas.
Dentre os principais instrumentos do fado estão a guitarra portuguesa,
um instrumento de seis pares de cordas que descende do cistre
renascentista e que apresenta duas variações locais, a de Lisboa (de
formato mais arredondado e timbre mais agudo) e de Coimbra (com braço
mais comprido e timbre mais grave); e o violão (chamado de "guitarra clássica" em Portugal).
Declarado Patrimônio Cultural da Humanidade em 2011, o fado ainda
goza de muita popularidade e prestígio, tanto em Portugal quanto em
outros países, e uma nova geração de novos artistas vem mantendo viva
esta belíssima tradição musical que, como poucas, nos apresenta um
reflexo genuíno da alma do povo português: melancólica mas cheia de
beleza.

Carlos Paredes
Abaixo, três sugestões de fado instrumental com grandes nomes da guitarra portuguesa:
ESSENCIAL – Carlos Paredes
Conhecido como "O Mestre da Guitarra Portuguesa" e "Homem dos Mil
Dedos", Carlos Paredes nasceu em Coimbra, em 1925. Suas influências
musicais vêm de berço, uma vez que vários de seus parentes próximos
foram grandes expoentes da guitarra coimbrã, como seu avô (Gonçalo
Paredes) e pai (Artur Paredes, considerado um grande mestre da guitarra
de Coimbra). Músico e compositor notável, e um dos principais
responsáveis por popularizar o instrumento que o consagrou, Paredes
tornou-se um dos maiores símbolos da cultura portuguesa de todos os
tempos. Faleceu em 2004.
GUITARRA PORTUGUESA – António, Paulo & Ricardo Parreira
Considerado um mestre da guitarra portuguesa, o guitarrista,
compositor e professor da Escola de Guitarra do Museu do Fado de Lisboa António Parreira,
na companhia de seus filhos, os também músicos e compositores Paulo e
Ricardo, gravou um belíssimo álbum instrumental em que trazem diversas
guitarradas tradicionais e quatro composições originais, duas delas
dedicadas às netas Maria Inês e Maria Leonor.
CANÇÕES DE PORTUGAL – Jorge Fontes
Nascido em 1935 em Vila dos Carvalhos, uma freguesia de Vila Nova
de Gaia, Jorge Fontes iniciou sua carreira em Lisboa, ainda muito jovem.
Integrou o elenco de várias casas de fado famosas no Bairro Alto,
Lisboa, onde atuou por 29 anos, além de acompanhar artistas como Amália
Rodrigues, Fernando Farinha e Ada de Castro, dentre muitos outros.
Faleceu em 2010, três anos após gravar seu último álbum de estúdio.
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